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Basílica da Natividade - Parte 1 de 2

Atualizado: 21 de dez. de 2021


Um poço em Belém - Circa 1911

"Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. " Miquéias 5:2

Belém, cidade ondem moraram Salmom, Raabe, Noemi, Boaz, Rute, Obede, Jessé e Davi, o rei. São famosos elencados na Bíblia que viveram na região a partir de 1200 a.C.. Curiosamente, o descendente de Davi que, de fato, tornou aquele pequenino vilarejo conhecido no mundo todo e desejado por peregrinos de todas as nações não morou na cidade, apenas nasceu ali para que se cumprisse as palavras do profeta Miquéias, Jesus.

Apesar de estar em Israel e na Judéia, Belém é considerada terra Palestina, está cercada por muros e não habita nela nenhum judeu. Apenas árabes muçulmanos e alguns poucos cristãos. O muro serve para conter ataques terroristas contra judeus.

A Basílica da Natividade é, sem dúvida alguma, um dos lugares mais maravilhosos da Terra Santa. Não esteticamente falando, mas por sua história, espiritualidade e antiguidade. Os moradores de Belém afirmam que essa é a basílica cristã mais antiga do mundo ainda em uso. É impossível afirmar se foi de fato ali que Jesus nasceu, mas alguns fatos levam a crer que sim.

PERÍODO ROMANO

Quando a virgem Maria deu à luz, Belém era dominada pelo Tetrarca Herodes, o Grande. Aliás, o seu túmulo chamado Herodium fica próximo à cidade. Felizmente, na grande destruição do ano 70 d.C. ordenada por Tito, Belém foi poupada. É bem provável que cristãos já reconheciam e visitavam a gruta como sendo o local da natividade. É quase certo que naquela época o local ainda estava em seu estado original.

Em resposta à longa e terrível Revolta judaica de Bar Kochba (Filho da Estrela), o Imperador Adriano (76 – 138 d.C.) ordenou um massacre do povo judeu, a exclusão dos judeus de Jerusalém, muitos dos quais foram vendidos como escravos. Adriano empenhou-se em humilhar e apagar a história judaico-cristã da Terra Santa. Mudou os nomes de Jerusalém e da Judéia que passaram a se chamar respectivamente Aélia Capitolina e Síria-Palestina.

O imperador ergueu um templo à Zeus no sobre as ruínas do Templo Judeu. No Gólgota erigiu um templo à Afrodite e na gruta venerada por cristãos em Belém, ordenou que se fizesse local de culto à Adonis. Fato esse confirmado por São Jerônimo. Felizmente para o cristianismo, a atitude de Adriano marcou os locais de culto dos primeiros cristãos preservando assim a tradição mais antiga possivel.

PERÍODO ROMANO-BIZANTINO

O Édito de Constantino (315 d.C.), o Concílio de Nicéia (325 d.C.) e a fé da rainha Helena foram decisivos para o cristianismo e locais relacionados à vida de Jesus Cristo.

Imperador Constantino a pedido de sua mãe, ordenou a construção da Basílica da Natividade em 326 d.C.. O importante prédio ficou pronto no ano de 333 d.C. o que tornou Belém um centro cristão de peregrinação. Entre os anos de 384 e 420d.C., o estilo de vida monástico, a tradução da Vulgata e os demais escritos de São Jerônimo aumentaram ainda mais a importância de Belém no mundo cristão.

No ano de 531 d.C., samaritanos de Nablus se rebelaram contra o Império, saqueando e destruindo a cidade e a Basílica da Natividade. Mais tarde, Justiniano reconstruiu a cidade e a igreja decorada com um mosaico no qual reis magos vestiam trajes persas. Isso foi particularmente importante durante a conquista dos persas por Chosroes em 614, pois fez o exército poupar a basílica de mais uma destruição. Em 629 d.C., o imperador Heráclito retomou a cidade para o império.

PERÍODO ÁRABE-MUÇULMANO

Assim que tomou a cidade de Belém em 631 d.C., Omar adentrou a abside sul da basílica para orar. O califa garantiu a paz entre cristãos e muçulmanos. Entretanto com o advindo de outros califas menos ecumênicos essa paz foi deteriorando o que culminou na revolta do ano de 1009 d.C. que ordenou a destruição de todos os santuários cristãos da Terra Santa, massacre do qual a Natividade escapou.

PERÍODO DOS CRUSADOS

Começa o era de ouro de Belém. Com financiamento e apoio militar e político, Belém explode na relação com a Europa. Recebe milhares de religiosos e peregrinos. Monastérios e outras construções são erguidas. Entre 1165 e 1169 d.C. a Basílica da Natividade é reformada.

Mas, em 1187 d.C., Belém é tomada pelas tropas de Saladino o que levou ao êxodo dos cristãos de Belém. Após cinco anos, os muçulmanos permitiram o regresso dos latinos e a retomada do serviço religioso. É bem provável que São Francisco de Assis tenha visitado Belém durante sua peregrinação ao Oriente entre os anos de 1219 e 1220 d.C..

PERÍODO MAMELUCO

Em 1263 d.C., com a invasão de Jerusalém pelos mamelucos do Egito, o Sultão Baybars expulsou os cristãos de Belém e derrubou os muros fortificados da cidade. Durante este período, os peregrinos só conseguiam chegar à cidade pagando uma taxa. Após a queda de Acre em 1291 e o fim do Reino latino de Jerusalém, a Palestina ficou sob o controle dos mamelucos até sua conquista pelo Império Otomano.

Em 1479 d.C., franciscanos que haviam chegado em 1347 d.C. reconstruíram o telhado da igreja com madeira fornecida por Duke Philip da Borgonha.

PERÍODO TURCO-OTOMANO

Os turcos dominaram a Terra Santa a partir de 1517 d.C.. O sultão Selim destruiu o que restava dos muros de Belém. Os cristãos foram oprimidos e gradualmente saíram da cidade. A Basílica ficou dividida entre os franciscanos e os ortodoxos.

Entre 1831 e 1841 d.C., Muhammad Ali, vice-rei do Egito, e seu filho Ibrahim Pasha mantiveram a Terra Santa livre dos turcos. Belém passou a ter maioria cristã. Sem inimigos externos, floresceram as disputas internas pela Gruta da Natividade.

Em 1859 d.C., os franciscanos adquiriram o Campos de Pastores (Siyar al-Ghanam,), onde foram descobertos os restos de construções do período bizantino que, de acordo com a tradição, marcavam a existência de um lugar de culto.

Após o colapso do Império Otomano em 1917 da era comum, como consequência da sua derrota na Primeira Guerra Mundial, a Palestina tornou-se em 1922 um protetorado da Grã-Bretanha, com base em acordos internacionais.

PEREGRINOS E TESTEMUNHOS HISTÓRICOS

Quando estou em Israel, gosto muito de ler as anotações empoeiradas de peregrinos que descrevem os locais geográficos, construções e liturgias da Terra Santa. É quase um milagre poder ver as mesmas estruturas e locais que eles testemunharam há centenas e até mesmo milhares de anos. Leia alguns testemunhos milenares dobre a Basílica da Natividade.

Justino, o Mártir (161 d.C.)

Justino, o Mártir (161 d.C.) - O historiador romano de Nablus, escreveu:

"José pegou seus aposentos em uma determinada caverna perto da aldeia (Belém), e enquanto eles estavam lá Maria deu à luz o Cristo e colocou-o numa manjedoura, e aqui os Magos que vieram da Arábia encontraram ele." (Diálogo com Trifão, capítulo LXXVIII).

Orígenes Adamantium (250d.C.)

Orígenes Adamantium (250d.C.) - O filósofo, teólogo, escritor e um dos principais catequistas de Alexandria visitou e pregou na Palestina. Observou e escreveu sobre os lugares sagrados, inclusive sobre a Gruta da Natividade. escreveu:

“Se alguém, sem estar satisfeito com a profecia de Miquéias e a história registrada nos Evangelhos pelos discípulos de Jesus, deseja provas adicionais de que Jesus nasceu em Belém, que ele considere o fato de que em Belém é mostrado a caverna onde ele nasceu. E nesta caverna há a manjedoura na qual ele estava envolto em roupas sujas; E tudo isso está em conformidade com a narrativa nos Evangelhos em relação ao seu nascimento. E é bem conhecido nestes lugares, mesmo entre aqueles que são inimigos da fé, que nessa caverna nasceu Ele que é adorado e considerado com admiração pelos cristãos, Jesus.” (Contra Celso, livro I, capítulo LI).

Eusébio de Cesaréia (335 dC) – Historiador e biógrafo do Imperador Constantino, escreveu sobre muitos lugares sagrados e igrejas construídas por esse. Escreveu sobre a Gruta da Natividade e a construção da igreja constantiniana.

“Ela [mãe de Constantino] consagrou imediatamente dois santuários ao Deus que ela adorava, um na caverna em que o Senhor nasceu, o outro na montanha de onde ele subiu ao céu. Pois ele, que era "Deus conosco", permitiu-se sofrer até o nascimento por nosso bem, e o lugar de seu nascimento é chamado Belém pelos hebreus. Consequentemente, a imperatriz mais piedosa honrou a gravidez do divina com maravilhosos monumentos, embelezando a caverna sagrada com todo o esplendor possível. E logo depois, o próprio imperador honrou-o com oferendas imperiais, aumentando as obras de arte de sua mãe com dispendiosos presentes de prata e ouro e cortinas bordadas.” (Vida de Constantino 3,43)

O Peregrino anônimo de Bordeaux (333 - 334 d.C.) – O Itinerário Burdigalense, também chamado de Jornada de Jerusalém é um dos mais antigos guias medievais de viajantes à Terra Santa. É descrita a viagem entre Bourdeaux e Jerusaléma e os locais sagrados, dentre eles a Igreja da Natividade.

“Quatro milhas ao longo da estrada de Jerusalém a Belém, à direita, é o túmulo que foi colocada Raquel, mulher de Jacó. De lá, Belém duas milhas à esquerda é onde o nosso Senhor Jesus Cristo nasceu. Há uma igreja foi construída no fim de Constantino.” (Itinerário Burdigalense)

Peregrina Egéria (381-384 d.C.) – A primeira mulher peregrina a descrever os sagrados da Terra Santa. Em sua descrição de Belém, menciona os rituais e celebrações realizadas durante a Festa da Epifania.

“E em Belém todos os dias, durante a semana, a festa é celebrada pelos sacerdotes e pelo clero deste lugar e pelos monges que são designados para este lugar. A partir da hora em que todos retornam de noite a Jerusalém com o bispo, os monges deste lugar, os que estão lá, mantenham a vigília na igreja em Belém até o amanhecer, cantando hinos e antífonas, porque o bispo deve estar sempre em Jerusalém nesses dias. Para a observância solene e alegre deste dia, uma enorme multidão se reúne em Jerusalém de todos os lados, composta não apenas de monges, mas também de leigos, homens e mulheres.” (Rachar. XXV-12)

Theodosius da Capadócia ( 530 d.C.) – Ainda criança peregrinou à Jerusalém. Discípulo de Longinus, foi convidado por esse para cuidar de comunidade na estrada de Belém, onde construiu o mosteiro chamado Cathismus. Morreu e foi sepultado na Caverna dos Magos Belém. No texto abaixo, Theodosius conta uma história envolvendo o lugar tradicionalmente conhecido como Katisma, perto do Mosteiro de São Elias, onde Maria parou para descansar durante a viagem de Jerusalém para Belém.

“Urbicius passou a ser chamado de Superintendente do Império porque serviu nesta função para sete imperadores; Ele mesmo coroou as cabeças desses imperadores, retirou suas coroas e castigou-os. Há um lugar a três milhas da cidade de Jerusalém: quando Santa Maria, mãe do Senhor, estava indo para Belém, ela saiu do burro lá, sentou-se numa pedra e abençoou-a. O próprio Superintendente Urbicius teve esse corte de pedra e feito quadrado na forma de um altar, com a intenção de enviá-lo para Constantinopla. Quando ele chegou no Portão de São Estevão, não conseguiu avançar. Um jugo de bois estava puxando [o carrinho com] a pedra, e vendo que de nenhuma maneira eles podiam avançar, foi levado para o túmulo do Senhor, e ali um altar foi feito a partir desta pedra, e este altar é usado para a comunhão. Está por trás do túmulo do Senhor. Este superintendente Urbicius morreu em Constantinopla durante o reinado do imperador Anastasio [491-518], e eles o enterraram. E a Terra não receberia Urbicius, três vezes o túmulo o expulsou.” (O Cerco da Terra Santa, 530 d.C.)

Peregrino anónimo de Piacenza (560 e 570 d.C.) – Vindo de Piacenza na Itália, narra sua passagem pelos lugares históricos e santos de Belém como o Herodion, o túmulo de Raquel, mosteiros e a Gruta da Natividade.

“No caminho para Belém, no terceiro marco de Jerusalém, encontra-se o túmulo de Rachel, no limite da área conhecida como Ramah. No mesmo lugar, no meio da estrada, vi uma água parada vindo de uma rocha, no meu juízo, cerca de um pouco menos de quatro litros, dos quais todos tomam o quanto quiser e a água não diminui Nem aumenta.

É indescritivelmente doce de beber, e eles dizem que isso é porque St. Mary, quando ela estava fugindo para o Egito, sentou-se aqui e estava com sede e esta água imediatamente começou a fluir. Há também uma igreja recentemente construída aqui. Daqui a Belém é de três milhas. Belém é um lugar esplêndido, com muitos servos de Deus. Existe a caverna onde o Senhor nasceu, na qual há a manjedoura adornada com objetos de ouro e prata, e está iluminada noite e dia. A entrada da caverna é realmente muito estreita.

O padre Jerome escavou a rocha da foz da caverna e fez um túmulo para si mesmo, onde mais tarde ele foi colocado. A meia milha de Belém, em um subúrbio, o corpo de Davi está junto com o de Salomão, seu filho: as duas tumbas são conhecidas como o santuário de São Davi. As crianças mortas por Herodes têm seu túmulo neste lugar, e todos são enterrados juntos; Ao abrir a tumba, pode-se ver seus ossos. Na frente de Belém é um mosteiro cercado por uma parede em que há uma grande comunidade de monges.” (Itinerarium placentini, 570 d.C.)

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"Dr. Felipe considera que a terra de Israel foi agraciada pelo sobrenatural, pelo natural e pelo humano; é sem-segundo quando se trata de paisagens, história, religião e cultura; e oferece todos esses ingredientes àquele que a descreve, em um caldeirão que vem sido mexido e temperado há milênios por mãos humanas e divinas. Para ele, Israel é uma musa de inspiração que convida à sua contemplação e profusa tradução artística. Ele aceitou o convite."

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